quarta-feira, 23 de junho de 2010

Crise e morte no Walfredo

No segundo dia da greve dos servidores da saúde estadual e às vésperas do início da greve dos médicos, marcada para começar na próxima quinta-feira, a situação no pronto-socorro Clóvis Sarinho (Hospital Walfredo Gurgel) é caótica. Pacientes esperaando atendimento há mais de dez horas, macas espalhadas pelos corredores e funcionários de braços cruzados ilustram a crise na saúde. Além de todo o caos, a família de uma aposentada de 72 anos, falecida na manhã de ontem, acusa o hospital de negligência médica.


Eliaquino, filho da aposentada, mostra ficha de internação na UTI, mas diz que ela não recebeu tratamento intensivo Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press
Maria das Dores de Souza Alves deu entrada no hospital no último domingo acometida por um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico grave. O filho da aposentada, Eliaquino Martins de Souza,35 anos, afirmou que ao chegar na unidade na manhã de ontem sua mãe estava sem nenhuma assistência na UTI e os médicos se negaram a verificar o quadro clínico da paciente quando solicitados. "Quando cheguei lá, os aparelhos em que ela estava ligada estavam desligados e não tinha ninguém com ela".

Eliaquino diz que chamou um médico, "mas ele disse que não iria atender e continuou sentado". Ele contou ainda que um outro médico afirmou que ali não era o local adequado para a aposentada estar, já que, segundo ele, ela precisaria de uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O motorista, porém, mostrou à nossa reportagem a ficha da mãe, onde constava que ela estava na UTI.

A assessoria de imprensa do hospital informou que a ficha apresentada por Eliaquino é uma ficha padrão para o visitante ter acesso ao hospital e que não significa necessariamente que o paciente está na UTI. De acordo com a assessoria, desde o momento da internação até o falecimento, a aposentada permaneceu no setor de reanimação do hospital.

Inconformado, Eucana Martins de Souza, outro filho de Maria das Dores, culpou os médicos pela morte de sua mãe. "Eu chamei eles e eles não quiseram nem saber da minha mãe", disse se referindo aos residentes que estavam na UTI ouvindo explicações dos professores.

Morte cerebral

Um médico do pronto-socorro que preferiu não se identificar afirmou que, quando a família chegou para a visita, a paciente já tinha sofrido a parada cardio respiratória e nada poderia ser feito. Segundo ele, a aposentada já apresentava sinais de morte cerebral, mas isso não pode ser constatado oficialmente porque o protocolo de morte encefálica que inclui a realização de dois exames clínicos e um gráfico não chegou a ser concluído.